UM GIGANTE COM PERNAS DE ANÃO
No meio dos enormes desafios que o país enfrenta resultantes da emergência climática, a Nova Era que iniciou neste mês de Janeiro, começa com muitas reticências sobre o tipo de abordagem que o novo Executivo pretende conduzir as respostas para as questões ambientais.
Tendo em conta o manifesto eleitoral do partido que suporta o governo do dia, há(via) uma boa indicação de que a emergência climática terá o tratamento devido, com respostas à dimensão dos problemas actuais e futuros.
O manifesto do Executivo promete, de entre outros aspectos “introduzir a questão das mudanças climáticas no ciclo de planeamento das infra-estruturas”, a introdução de“políticas que garantam uma gestão inter-geracional dos recursos naturais e do ambiente”, “incentivar a promoção e implementação de estudos e investigação destinados a reduzir o risco de catástrofes naturais e a adaptar-se às mudanças climáticas” e “assegurar que a agenda do crescimento verde seja integrada nas prioridades nacionais de desenvolvimento”.
Pelo plasmado, há uma clara indicação de que, com base nas experiências, trágicas, dolorosas e positivas que o país acumulou nos últimos anos, tendo em conta os choques climáticos, foram tiradas ilações suficientes para que, a par das informações que a ciência oferece, se pudesse produzir uma cartilha para uma melhor resposta aos desafios.
Contudo, a morte do Ministério da Terra e Ambiente (MTA), entidade que dava a devida dimensão e autonomia na liderança das questões em causa, parece criar um enviesamento daquilo que era percepção das promessas e podem mesmo dar uma sensação de uma tendência ao negacionismo.
As questões climático-ambientais são transversais e devem, como vendia o manifesto em citação, ser abordadas com toda a seriedade.
Ao colocá-las como uma gaveta no Ministério da Agricultura, a sensação que fica é de um reducionismo que, dada a dimensão dos desafios que existem no sector agrário, alguns dos quais, relacionados com questões climático-ambientais, levarão a que haja uma tendência de soluções voltadas largamente para responder às demandas da produção e produtividade.
Dito por outras palavras, ainda que cientes da falência da nossa percepção, nos arriscamos a dizer que o sector ambiental é um gigante que ficou com pernas de anão.