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Quando o extensionista é o parente pobre da agricultura

Cerca de dois mil técnicos de extensão rural — verdadeiros “cordões umbilicais” entre os produtores e os ideais de um país agrícola — vivem hoje dias de incerteza, após uma decisão administrativa que os desvincula do seu patronato natural, o Ministério da Agricultura, Ambiente e Pescas (MAAP).
Trata-se de uma decisão difícil de compreender, sobretudo considerando o papel estratégico que a extensão rural desempenha num país que ambiciona fazer da agricultura o motor do seu desenvolvimento. Ainda mais se tivermos em conta que é o sector familiar que continua a sustentar a maior parte da produção agrícola nacional.
Na ausência de explicações oficiais e públicas sobre esta ruptura abrupta, uma coisa parece evidente: o actual executivo está a romper com o passado recente no que diz respeito às políticas agrárias. Esta mudança evidencia que aquilo que, até há pouco tempo, era apresentado como um programa revolucionário — o SUSTENTA — não passou de mais um ensaio. Um ensaio envolto em triunfalismo, que agora se revela como mera propaganda.
Além disso, a linha que está a ser seguida pelos actuais responsáveis do sector agrário reforça a marca da descontinuidade que há décadas trava o progresso da agricultura em Moçambique. A cada ciclo, novas estratégias substituem as anteriores, sem avaliação, sem continuidade, sem consolidação — atrasando, mais uma vez, o desenvolvimento efectivo do sector.
Os técnicos agora dispensados são, em sua maioria, jovens qualificados, formados com esforço e movidos pela paixão de transformar vidas através do conhecimento. São filhos e filhas de Moçambique que escolheram permanecer e servir, mesmo em contextos desafiadores.
A sua retirada não representa apenas uma perda de emprego. Representa o abandono dos campos à improvisação, o enfraquecimento da orientação aos agricultores e um país que arrisca caminhar às cegas numa das suas rotas mais promissoras: a agricultura.
Ainda assim, por estarmos no início de um novo ciclo, queremos crer que razões objectivas e estruturantes sustentam as decisões em curso. E mais do que isso: que há um plano, um rumo, e um verdadeiro compromisso com o progresso do sector agrário.
Esperamos, por isso, que as notificações que hoje chegam às mãos dos extensionistas não representem o fim da linha. Porque num país como o nosso, não há agricultura sem extensionistas. Que se reconheça o seu valor e se aproveite o capital humano já formado, posicionando-os como agentes estratégicos para o desenvolvimento rural e nacional.