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Arroz: da balança que pesa ao potencial que alimenta

Em Moçambique, o arroz deixou de ser apenas um prato da tradição para tornar-se símbolo de mudança social e económica. De norte a sul, das mesas familiares às cantinas escolares, o consumo cresce numa cadência que acompanha a urbanização, a mudança dos hábitos alimentares e a ascensão de uma nova classe média. O arroz tornou-se, silenciosamente, um alimento indispensável.
Mas este crescimento esconde uma fragilidade que se reflete na economia nacional: a produção interna continua aquém da procura, e o país vê-se obrigado a recorrer ao mercado externo para garantir o abastecimento. São milhares de toneladas que atravessam os portos e estradas, drenando divisas preciosas, enquanto o potencial fértil das nossas planícies ainda não é plenamente aproveitado. A balança comercial acusa o peso desta dependência, tornando cada prato de arroz também um lembrete das nossas vulnerabilidades.
Contudo, naquilo que hoje é desafio, esconde-se uma oportunidade. A crescente procura não deve ser lida apenas como ameaça, mas como motor para uma viragem estratégica. Investir na produção interna significa mais do que reduzir importações: é fortalecer a segurança alimentar, criar emprego rural, estimular cadeias de valor locais e devolver equilíbrio às contas nacionais.
O arroz pode e deve ser visto como um produto-âncora da agricultura moçambicana. Transformar a tendência de consumo em plataforma de produção é um passo natural para quem deseja soberania alimentar e resiliência económica.
É por isso que esta edição da Revista Terra traz, como matéria de fundo, uma análise aprofundada sobre o crescimento do consumo de arroz no país, o impacto desta realidade nas contas públicas e, sobretudo, as oportunidades que se abrem para inverter a balança. Mais do que um alimento, o arroz é hoje um campo de batalha estratégico entre dependência e soberania.