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A guerra da castanha

No início deste mês, surgiram informações sobre uma alegada escassez de castanha de caju na província de Gaza, historicamente uma das principais produtoras desta amêndoa em Moçambique.
A questão foi levantada pelo sindicato das empresas que operam na indústria de descasque e processamento, que, por meio da governadora provincial, manifestou preocupação ao ponto de considerar a importação da castanha de outras regiões.
No entanto, ao analisarmos os factos, a narrativa da escassez parece pouco convincente. Embora seja inegável o declínio da produção ao longo dos anos, devido ao envelhecimento das árvores e outros factores, é difícil acreditar que, numa província onde o cajueiro ainda predomina, a queda seja tão drástica a ponto de comprometer as poucas indústrias locais. Ademais, estas já não operam nos níveis de produção e influência que tiveram há quatro décadas.
A suposta crise não é apenas um reflexo da baixa produção, mas sim de um problema estrutural antigo: a tensão entre os produtores e o setor industrial, alimentada por uma disputa constante pelo maior lucro.
Os agricultores há anos denunciam a fraca compensação pelo seu trabalho, considerando injustos os preços oferecidos pelos industriais. Estes, por sua vez, pouco ou nada investem no fomento da produção, mas exigem matéria-prima a custos reduzidos, ignorando os desafios enfrentados pelos produtores.
Diante dessa dinâmica, os produtores parecem ter encontrado uma nova forma de reivindicar seus direitos: reduzir ou até mesmo congelar a oferta da castanha, forçando os industriais a reavaliar sua postura. Em outras palavras, a alegada escassez pode ser menos uma crise real e mais uma consequência da luta pelo equilíbrio nos rendimentos dentro da cadeia produtiva.
Se há algo evidente nesse cenário, é que a sustentabilidade do setor cajuícola em Gaza exige um diálogo mais justo entre produtores e industriais. Ignorar essa necessidade pode tornar crises como esta cada vez mais frequentes e prejudiciais para todos os envolvidos.