Com um potencial agro-ecológico suficiente para se tornar num dos celeiros do país, Niassa continua com muitos desafios de produtividade e enormes oportunidades por explorar. Acompanhe a seguir um pouco da radiografia desta província, em entrevista com a governadora Elina Judite Massangela.
Conhecido o potencial agrícola de Niassa, particularmente na produção de cereais, que acções estão em curso para transformar esta província num verdadeiro celeiro e contribuir para a segurança alimentar do país?
Para transformar a Província num verdadeiro celeiro para contribuir na sustentabilidade e segurança alimentar do país, estão sendo levadas a cabo acções de massificação do uso de semente melhorada, fertilizantes e maquinaria agrícola na preparação dos solos, para além da intensificação na assistência técnica aos produtores. Com estas acções os produtores poderão aumentar sua renda e ter cereais para o seu consumo e para garantir a segurança alimentar.
Qual é o nível actual de produtividade, por exemplo, na última campanha e quais as perspectivas para a que está em curso, tendo em conta as condições climatéricas objectivas que atravessaram esta fase?
A produção alcançada na campanha agrícola 2021/2022, no global, foi de 3.080.224 toneladas, contra 3.045.846 toneladas da campanha 2022/2023, correspondendo a um crescimento na ordem de 1.1% e uma produtividade de cerca de três (3) toneladas por hectar (ton/ha). Na campanha em curso, a província perspectiva alcançar, em termos de cereais, cerca de 1.441.946 ton, contra 1.415.048 ton da campanha 2021/2022, correspondendo a um crescimento de 2% , com uma produtividade de duas (2) ton/ha. Para as leguminosas, a evolução da produção foi de cerca de 352.229 toneladas na campanha agrária 2021/2022, para cerca de 363.963 ton na campanha agrária 2022/2023, que corresponde a um crescimento de 3,3%, com uma produtividade de duas (2) ton/ha. Na produção de raízes e tubérculos, na campanha 2021/2022 foi de 1.279.41 ton, em quanto para a presente campanha, perspectiva-se alcançar 1.281.414 ton. A produtividade ronda cerca de 12 ton/ha. Na produção de hortícolas na campanha agrária 2021/2022 foram alcançados cerca de 2.546 ton e para a pre sente campanha perspectiva-se cerca de 6.603 ton, o que representa um crescimento em 2.2% e a produtividade de 10 ton/ha.
Quais os produtos agrícolas de bandeira na província?
Os produtos agrícolas produzidos na província são, essencialmente, da cadeia alimentar e de rendimento. Nos produtos alimentares temos a destacar os cereais, leguminosas, oleaginosas, raízes tubérculos e hortícolas. Os produtos de rendimentos cultivados são o tabaco, algodão, soja, castanha de caju e macadâmia. Nas culturas bandeiras destacam-se o milho, feijões, soja, batata reno e batata doce.
Sabemos que a questão do agro-processamento é um problema sério que faz com que haja um nível considerável de desperdícios, por dificuldades de conservação. O feijão, por exemplo, chega a ter vida bastante curta após a colheita. Como é que está a situação neste momento e quais são as tendências, em termos de solução?
Para aumentar o tempo de vida do feijão e reduzir o desperdício, pós-colheita, o governo tem vindo a sensibilizar o sector familiar a seguir as boas práticas agrícolas de conservação, nomeadamente, o uso de inseticidas e variedades resistentes. Outrossim, em resposta à demanda, o sector privado montou uma fábrica de processamento de feijão no distrito de Lichinga.
Apesar do potencial agrícola que a província tem, até mesmo para produtos pouco tradicionais e próprios para clima fresco e que tem bastante mercado ao nível internacional, como maçãs e outras frutas, em termos de fluxo de investimento parece que Niassa é uma província amaldiçoada. Qual é a sensação da governadora?
Niassa é uma província com condições edafo-climáticas favoráveis para a produção de frutas nativas e exóticas. Distritos como por exemplo Lichinga, Chimbunila, Muembe, Sanga, Lago e Majune são potenciais na produção de maçãs e morangos, macadâmia e litchi. Actualmente regista-se a exportação da macadâmia assim como a saída de morango para diferentes pontos do país.
O que é que falta para que o sector privado nacional e internacional apostem cada vez mais no Niassa para investir e explorar as potencialidades existentes?
A Província tem feito a divulgação das potencialidades em wokhopps nacionais e internacionais como estratégia de atração de investimento e tem partilhado a caderneta de potencialidade locais.
Do ponto de vista ambiental, Niassa é tida como uma das províncias que ainda conserva a sua diversidade florestal e faunística. Qual é o real potencial da província e que acções estão em curso e/ ou previstas para melhor aproveitamento do potencial.
A cobertura faunística de Niassa é de cerca de 62,4% do território com florestas e vegetação natural, e florestas de Miombo, proporcionando um ambiente favorável para o turismo natural, eco-turismo e sequestro do carbono. Para manter a conservação destes recursos a província está apostando na partilha dos benefícios resultantes da sua exploração e na responsabilidade social.
Aposta também na legalização das áreas de conservação comunitária como forma de trazer a conservação e fiscalização para a própria comunidade e, com isso, produzir seus próprios benefícios.
Acções em curso: garantir a exploração dos recursos florestais de forma sustentável através da observância da legislação do sector, com destaque para os requisitos exigidos para o licenciamento florestal, cortes anuais admissíveis nos planos de maneio dos operadores e garantir a fiscalização florestal e faunística.
Sabe-se, também, que Niassa é um dos maiores produtores de mel no país, destacando-se o distrito de Mecula como o que detém grande potencial apícola. Como tem sido feita a exploração deste potencial e que perspectivas para uma certificação, rotulagem e embalagem deste produto para melhor competitividade no mercado internacional?
Sobre a produção do mel não é só o distrito de Mecula, a província conta com seis distritos potenciais que são: Sanga, Lichinga, Majune, Mavago e Marrupa incluindo o distrito de Mecula. Já foram tiradas diversas amostras do nosso mel para a certificação, onde foi concluído que o nosso mel tem qualidade para ser comercializado dentro e fora do país.
De salientar que o distrito de Mecula já está a processar o mel que comercializa ao nível da província e fora dela. Como desafio estamos empenhardo em atrair investidores para a massificação da produção e o processamento do mel, localmente.
Olhando para aquilo que constitui o cabaz alimentar da população do Niassa, a província é autossuficiente ou há produtos que, apesar do potencial, ainda depende de trazer de fora?
A Província do Niassa considera-se auto-suficiente no que tange a produtos agrícolas como são os cereais, leguminosas, raízes e tubérculos. A província não é auto-suficiente na produção de carnes, ovos e leite.
Em termos da pecuária, como é que está a província?
O efectivo pecuário da província tem registado um crescimento nos últimos três anos, em todas as espécies de interesse pecuário. Sobre a criação de frango, a província tem 241 criadores, dos quais cinco (5) são comercias, com a capacidade acima de 15.000, e os restante são do sector familiar, que cria com número abaixo de 300. Neste momento, em termos de frango vivo, a província tem capacidade de fornecer.
Uma outra potencialidade de Niassa é criação de ovinos, uma espécie quase escassa na maioria das províncias do país. Que perspectivas e planos para a sua massificação e melhoria dos níveis de reprodução, incluindo melhoramento das espécies?
A carne ovina continua a ser menos consumida, mas, apesar disso, o efectivo regista um crescimento aceitável. Como estratégia do sector, continuamos a sensibilizar a população para o consumo da carne, por ser de alto valor nutritivo. De salientar que o maior consumidor é a cidade de Lichinga. Outra estratégia é a construção de infra-estruturas pecuárias como corredores de tratamento, casas de abate, centros de maneio, mercados de vendas de pequenos ruminantes, ou feiras regulares onde a espécie ovina será inclusa, fazendo com que estimule a venda e o consumo desta espécie.
O Lago Niassa é um verdadeiro “mar de água doce”, como o designou um escritor nacional. Que potencialidades existem neste lago?
O Lago Niassa tem grande potencial na pesca artesanal, com cerca 400 espécies de peixe, com destaques para a Ossipa, Chambo, Malobolo, Utaca, Sangica, Micheni, entre outras espécies. Em termos de volume, tem mais de 20.000 ton de pescado por ano. Também tem potencialidade turística proporcionada pelas suas praias, com águas tranquilas e transparentes, proporcionando a pesca desportiva.
Quais são os planos para a sua exploração sustentável?
Como plano para a exploração sustentável dos recursos no Lago Niassa, desenvolvemos acções de ordenamento da actividade pesqueira com o licenciamento de artes de pesca e promovemos períodos de veda da actividade de pesca. Por outro lado, trabalhamos para atrair investimento em infra-estruturas de processamento, conservação e comercialização do pescado.
Em termos de exploração sustentável do peixe “tchambo”, que é um dos cartões-de-visita de Niassa, incluindo a criação de uma indústria de processamento, conservação e embalagem para colocação em outros mercados, alguma perspectiva?
Faz parte dos desafios do sector pesqueiro, de uma forma geral, inserido no âmbito da atracção de investimentos para infra-estrutura da cadeia de valor da pesca.
Em jeito de conclusão, qual é o legado que pretende deixar na província, como marco da sua passagem pela governação?
Queremos deixar Niassa com um desenvolvimento sustentável, quer ao nível ambiental, quer social e mesmo em termos económicos, com base nos recursos minerais, lacustres