Economia

O arroz tornou-se o produto de eleição na dieta dos moçambicanos, mas é a peso de ouro que custa aos cofres públicos.
É um dos principais alimentos que vai à mesa dos moçambicanos, mas também é o que mais pesa na balança comercial do país.
Apesar do enorme e reconhecido potencial de produção nacional, é de países como a Tailândia que Moçambique recorre para satisfazer a procura interna, drenando para este cereal divisas que
podiam equilibrar a balança comercial.
Só em 2024, Moçambique gastou 441 milhões de dólares na importação de cerca de 452 mil toneladas de arroz, um recorde que consolidou o país como um dos maiores importadores da
região da SADC, apenas atrás da África do Sul.
A tendência mantém-se no presente ano. De acordo com relatórios do Banco de Moçambique (BM), no primeiro trimestre, as importações já custaram 63 milhões de dólares, valor que
equivale a quase metade de todas as divisas usadas para importar alimentos no período. Contas feitas, só o arroz absorve 40% da factura total de cereais e quase metade das divisas gastas em alimentos básicos.
Numa economia marcada pela pressão cambial e por reservas limitadas, a dependência deste único produto funciona como um dreno contínuo de recursos, com impacto directo nas contas
públicas e na margem de investimento do Estado.

O paradoxo nacional
O nível das importações contrasta com o potencial interno para a produção deste cereal. Dados oficiais indicam que, do Baixo Limpopo ao Vale do Zambeze — mais concretamente nas
províncias de Gaza, Zambézia, Sofala e Niassa — o país possui vasto potencial, suficiente para satisfazer qualquer procura.
“Estudos e experiências oficiais de campo já demonstraram que, com mecanização, sementes melhoradas e apoio técnico, é possível alcançar produtividades comparáveis às dos grandes
mercados asiáticos”, disse à Revista Terra um especialista nesta cultura, que não quis ser identificado.
A realidade, contudo, mostra outra face: depois de uma produção considerável em 2022 — altura em que foi atingido o recorde da última década, com mais de 245 mil toneladas — o país entrou
em rota decrescente.
De acordo com dados oficiais, em 2023 a produção caiu 34%, para 161 mil toneladas, quando, segundo a FAOSTAT, a procura interna já supera 1,5 milhões de toneladas anuais, o equivalente
a 42 quilos por pessoa, um dos níveis mais altos da SADC.
O custo da dependência
Economistas e especialistas do sector agrário consideram, de forma unânime, que o aumento da produção interna representaria ganhos significativos a todos os níveis.
“Uma substituição de apenas 25% das importações significaria uma poupança anual superior a 100 milhões de dólares, valor capaz de reforçar as reservas externas e aliviar a pressão cambial.
A médio prazo, reduzir as importações para metade poderia libertar mais de 200 milhões de dólares por ano, recursos que poderiam ser canalizados para investimento público em saúde,
educação ou infra-estruturas”, explicou um economista.
Segundo a mesma fonte, o aumento da produção e, consequentemente, a redução do défice “não deve ser visto apenas como uma questão de soberania alimentar, mas também como uma
estratégia macro – económica: menos importações significam mais divisas disponíveis, maior estabilidade da balança comercial e maior margem de manobra para políticas públicas”.
Um problema além do campo
A Câmara do Agronegócio de Moçambique (CAM) considera o que se verifica com o arroz como parte de problemas estruturais que afectam o sector agrícola no país.
De acordo com Confiança Chicombo, Presidente da Mesa da Assembleia Geral da CAM, há questões de natureza política e disfunções do mercado que causam o atrofiamento da produção,
que está, quase na íntegra, a cargo do sector familiar.
“O mercado não está segmentado, porque o preço que as empresas agregadoras pagam não incentiva o pequeno produtor”, disse Chicombo.
“As empresas querem comprar, por exemplo, a 17 ou 18 meticais o quilograma, mas quando processam vendem a 50 meticais e, por isso, o pequeno produtor prefere vender pessoalmente o
seu produto, em vez de entregar à indústria”, explicou.
A fonte considera que uma das soluções para mudar o cenário passa por vontade política com medidas arrojadas, tais como barrar as importações, investir na produção interna e potenciar o
mercado interno.
“Hoje estamos a falar de gastos na ordem dos 400 milhões em importações. Se pegarmos esse valor e investirmos na produção interna, a curto e médio prazos conseguiríamos resolver o problema”, avançou.
“Barrando as importações, o pequeno agricultor saberá que tem mercado garantido, porque o Governo vai comprar a produção, e isso facilitaria o desenvolvimento produtivo”, concluiu, realçando, contudo, que esta solução deve ser acompanhada por outras medidas estruturais, tais como, expansão da irrigação e sementes melhoradas, para garantir produtividade estável, mecanização e armazenamento, através de parcerias público-privadas e políticas consistentes de compra pública e incentivos fiscais.
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