Mercado
A fraca ligação entre os polos de produção e os mercados continua a prejudicar os camponeses em alguns distritos fronteiriços da província da Zambézia. Milhares de toneladas de cereais, com destaque para o milho, são levados ao vizinho Malawi e vendidos a preços que subvalorizam o esforço dos camponeses e expõe as comunidades a riscos de bolsas de fome.
Rafael Dimaka é um agricultor baseado no distrito de Milange na província da Zambézia. Conta com um campo de produção de quatro hectares de terra onde produz, maioritariamente, milho e feijão.
Na campanha agrícola passada, Dimaka conseguiu quase uma tonelada de milho que entregou à comerciantes, conhecidos localmente de “ringuistas”.
Neste negócio tudo que conseguiu foram apenas 900 mil kwachas (cerca de 50 mil meticais ao câmbio do dia), que gastou, essencialmente, na compra de uma motorizada.
O valor é irrisório para as quantidades que vendeu, mas o agricultor diz que devido a falta de mercado local, não tinha outra alternativa senão atravessar a fronteira para o vizinho Malawi onde viu-se obrigado a entregar o produto a preço de “banana”.
Histórias como a do senhor Dimaka são comuns no distrito de Milange, um celeiro que, tal como muitos outros, debate-se com o problema de ligação aos mercados.
Perante este cenário, o Malawi surge como um mercado favorável, aliciando os agricultores a canalizarem toda a sua produção para aquele país vizinho.
Esta comercialização ocorre fora dos radares do Instituto de Cereais de Moçambique (ICM), entidade do Estado que responde pela comercialização de produtos agrícolas, através da ligação aos mercados.
O ICM diz desconhecer as quantidades reais de milho que atravessaram a fronteiras de Moçambique para o Malawi. O último registo, de Maio a Junho deste ano é de 14 mil toneladas declaradas por camionistas, contudo o director-geral da instituição, Alfredo Nampuio, reconhece que estas quantidades podem estar aquém da realidade, pois, uma grande quantidade de cereais é transportada por bicicletas e não é declarada.
Para além do custo pago minimizar o esforço dos camponeses, o ICM diz que o trânsito descontrolado de cereais trará problemas a médio prazo para comunidades, nomeadamente, as bolsas de fome e para a agroindústria nacional devido a falta de matéria-prima.
Ciente de que o problema reside no preço, Alfredo Nampuio diz que o governo está a sensibilizar os comerciantes nacionais a pagarem um preço maior ou igual ao praticado no Malawi.
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