Search
Close this search box.

Clima

Cai o pano da COP 30 sem avanços estruturais

A COP 30 encerrou na noite de sábado com a aprovação de vários textos considerados importantes, mas sem progressos nas duas causas centrais do aquecimento global: a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento.

A declaração principal, denominada Decisão Mutirão, não faz qualquer referência aos combustíveis fósseis — nem sequer para reafirmar o compromisso assumido há dois anos de “transitar para longe” destas fontes poluentes de energia.

Embora o tema não constasse da agenda formal, Brasil, Colômbia e outros países pressionaram para incluir na declaração final um “mapa do caminho” para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e do desmatamento à escala global. Contudo, não foi possível alcançar consenso.

Iniciativa paralela brasileira

Sem acordo multilateral, a presidência brasileira da COP anunciou uma iniciativa paralela. Um grupo de países deverá trabalhar, fora do quadro das Nações Unidas, na elaboração desses mapas, com um primeiro encontro marcado para Abril do próximo ano, na Colômbia.

A Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, reconheceu as limitações do texto aprovado, mas destacou alguns avanços, ainda que modestos.

“Se pudéssemos voltar ao tempo e conversar com nós mesmos na Rio 92, certamente ouviríamos que esperávamos mais, que acreditávamos que a ciência seria suficiente para mover decisões.

Apesar de não termos alcançado consenso para incluir este chamado fundamental nas decisões desta COP, o apoio recebido reforça o compromisso da presidência em elaborar mapas do caminho sobre como deter o desmatamento e como transitar para longe dos combustíveis fósseis de forma justa e equitativa.”

Decisão Mutirão: reafirmação sem acção concreta.

O documento reafirma os compromissos do Acordo de Paris e a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC, mas avança pouco em medidas práticas. Para a Superintendente de Gestão Ambiental da USP, Patrícia Iglecias, a exclusão dos combustíveis fósseis do texto foi um retrocesso, tendo em conta que são responsáveis por cerca de 80% das emissões de gases de efeito de estufa.

“O resultado foi decepcionante. Esperávamos um caminho claro para a transição energética e eliminação dos combustíveis fósseis. Isso não aconteceu.”

O professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP, considera que os interesses económicos e geopolíticos ligados à indústria petrolífera prevaleceram:

“O lobby do petróleo venceu o interesse dos 7,7 mil milhões de pessoas que já sofrem com os impactos climáticos. Ainda assim, foi uma COP intensa, com grande participação da ciência, da sociedade civil e das comunidades indígenas.”

Artaxo integra o grupo de cientistas que assessorou a presidência da COP. Ele afirma que os investigadores continuarão a apoiar o Brasil na construção dos mapas do caminho, com envolvimento da comunidade científica nacional.

Encerramento

O Presidente da COP 30, embaixador André Corrêa do Lago, encerrou a conferência às 20h30 de sábado, visivelmente exausto. Para ele, os resultados serão melhor compreendidos ao longo do processo:

“Acho que a COP30 foi muito boa. Ao longo dos dias, víamos o que mais poderia ter sido feito, mas também os frutos do que foi planeado. Estou muito feliz.”

O Brasil mantém a presidência do processo até à próxima conferência,

prevista para 2026, em Istambul, Turquia.

Compartilhar