Entrevista
Faltou comunicação geral sobre o projecto, os grandes benefícios que podia trazer para Moçambique, mas, também, com as comunidades locais, onde o projecto seria realizado
Quatro anos depois do anúncio oficial do fim do ProSAVANA, o maior projecto de desenvolvimento do agronegócios, que desde 2009 foi ensaiado para a região Norte, a diplomacia brasileira, país que, juntamente com o Japão, era um dos envolvidos, falou pela primeira vez da iniciativa.
O representante da diplomacia brasileira, Ademar Seabra da Cruz Junior, considera que o ProSAVANA era uma “ideia excelente” e tinha “uma concepção oportuna”, mas admite que teve alguns erros capitais que determinaram o seu fracasso.
“Pelo que eu conheço, pelo que acompanhei, faltou o elemento de comunicação”, sintetizou o diplomata.
“Primeiro (faltou) comunicação geral sobre o projecto, os grandes benefícios que podia trazer para Moçambique, mas, também, com as comunidades locais, onde o projecto seria realizado” salientou.
Concebido para uma extensão de 11 milhões de hectares ao longo do corredor de Nacala ocupando, mais concretamente, 19 distritos das províncias de Nampula, Niassa e Zambézia, o ProSAVANA contava com financiamento do Japão e pretendia trazer conhecimento e experiências do desenvolvimento agrário do Brasil, mas esbarrou em muita contestação por parte de organizações da sociedade civil, que viam no projecto, de entre outros aspectos, um factor para a expropriação de terras das comunidades locais, para dar lugar a monoculturas para a exportação.
O diplomata brasileiro entende que, a par da falta de comunicação adequada, houve também uma visão de linearidade na forma de implementação do projecto.
“O Prosavana achava que nós pudéssemos transplantar a grande história de sucesso da plantação da soja brasileira, onde chegamos a produzir 180 milhões de toneladas. Que basta pegarmos a terra, plantarmos boas sementes de soja em amplas extensões de terra rurais, colocarmos fertilizantes e escoar a produção para a China” explicou.
“Essa visão não deu certo, por uma questão básica e essencial. Aí é onde sai o elemento da linearidade. Não se pode fazer isso sem a capacitação, formação e relacionamento sensível, respeitoso e estratégico com as comunidades rurais, com a pequena machamba moçambicana, com aqueles que ainda exploram o potencial da terra” acrescentou, defendendo o envolvimento e o respeito pelas comunidades locais para a sustentabilidade de qualquer projecto de desenvolvimento.
“Aos pequenos produtores moçambicanos seria vantajoso mudar a mentalidade para que produzam mais e sejam mais eficientes. Ter Superávit para colocar noutros mercados e fazer com que a produção não seja só elemento de subsistência, mas também de renda. Por outro lado, o grande empresário do agronegócio, que se instale em Moçambique, tem que aprender também com a machamba, aprender quais são os seus valores, os seus rituais, as suas tradições, sonhos e aspirações, para não imaginar que todos têm de aceitar, ou seja, é preciso haver uma troca, uma interacção”.
Leia a entrevista na íntegra na edição Digital da Revista Terra.
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