Reformas Agrícolas: O Desafio da Continuidade
O sector agrícola em Moçambique tem sido, ao longo dos anos, terreno fértil para sucessivas reformas que, em vez de consolidarem ganhos, tendem a reiniciar o jogo a cada ciclo governativo. A história recente mostra um padrão: as políticas agrárias não resistem às mudanças de executivo, resultando em descontinuidades que fragilizam a base produtiva e comprometem a confiança dos actores do sector.
As reformas actualmente em curso não fogem a esta regra. Em vez de partirem dos avanços – ainda que parciais – do passado, reorientam o sector numa nova direcção, com estruturas e prioridades próprias, deixando para trás investimentos, planos e programas anteriormente concebidos. Esta lógica de “recomeço permanente” corrói não só a consistência das estratégias públicas, mas também a capacidade do país de responder, a tempo e com eficácia, a desafios que não esperam, como a insegurança alimentar, a fome e a desnutrição.
Importa reconhecer que qualquer reforma agrícola leva tempo até se traduzir em resultados palpáveis. A natureza do sector – dependente de ciclos de produção, condições climáticas e infra-estruturas de apoio – torna impossível esperar impactos imediatos. Contudo, a pressão é enorme: o actual ciclo governativo iniciou-se em paralelo com a primeira época agrícola, cujos resultados já apontam para uma queda de produção. Este dado deve ser interpretado como um sinal de alarme.
Se há uma lição a retirar, é a necessidade de alinhar, sem hesitação, as estratégias para a campanha 2025-26 – a primeira totalmente sob responsabilidade do actual executivo. Será nesta época que se poderá avaliar, de forma mais justa, a eficácia das medidas adoptadas. Mas a interrogação permanece: valerá a pena todo o esforço se, ao fim do mandato, as reformas forem substituídas por novas direcções políticas?
A agricultura exige continuidade, perseverança e coerência estratégica. Se a tendência de descontinuidade prevalecer, o país continuará a caminhar em círculos, desperdiçando tempo e recursos, enquanto a fome e a desnutrição exigem respostas rápidas e sustentáveis. O desafio não é apenas reformar, mas garantir que as reformas sobrevivam ao calendário eleitoral e se transformem, finalmente, em pilares de desenvolvimento agrícola e de segurança alimentar para Moçambique.